3 cenas de filmes de ação interrompidas porque personagens secundários se mostraram excessivamente emotivos em momentos inesperados

Shoegayzer
4 min readMar 18, 2020

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#1

Base secreta do MI-6, subterrâneo da cidade de Londres. A porta de um antigo elevador se abre e de dentro dele sai o agente secreto 007, ajeitando as mangas do paletó, onde se podem notar marcas de tiro. Rapidamente “M” explica para ele a gravidade da situação. Terroristas. Uma arma química. Menos de 48 horas. Caminham rapidamente para o laboratório, onde “Q” já está esperando, um novo paletó azul nas mãos.

“Hmmm…bela cor. Alguém lá em cima aparentemente não gosta muito de cinza”, Bond diz enquanto passa o dedo pelo furo do paletó que está tirando. “Mas isso não é apenas um paletó”, sinaliza “Q”. “Isso é também um colete à prova de balas, salva-vidas, pára-quedas e cada um dos botões é um explosivo com a mesma potência de uma pequena ogiva nuclear”.

“E esse é o meu carro, certo?”, pergunta 007, sinalizando para o Aston Martin Valkyrie prateado sobre a plataforma. “Isso é muito mais do que um carro. Isso é uma base militar móvel com radares, sensores, uma central completa de comunicação capaz de sintonizar qualquer onda do espectro conhecido pelo homem. Ele é capaz de correr, navegar, voar e escalar, além do modo camuflagem e ter embutido um arsenal capaz de derrubar o governo de um pequeno país”, confirma “Q”.

“Mas e isso?”, pergunta “M”, apontando para a caneta que “Q” segura com muito cuidado entre as duas mãos. “Bem, essa é a arma que mais me machucou até hoje, chefe”. “Ah, isso não é só uma caneta, né? O que ela faz? Atira? Explode?”. “Não”, responde “Q”, suspirando. “Ela serve apenas pra mulher que você ama assinar os papéis do divórcio”.

#2

Washington. Numa sala escura, Jack Bauer, respiração acelerada, olha fixamente para um homem. Com uma das mãos algemadas na mesa, o estranho aparenta estar ferido, como se já tivesse sido espancado durante horas. “Você sabe que eu posso fazer isso o dia todo, não sabe?”, Jack diz, mas o homem não responde. “Onde estão as armas?” Jack, grita, mas o homem segue calado.

“As câmeras estão desligadas”, diz o agente federal apontando para os cantos da sala de interrogação. “Ninguém sabe que você está aqui”. Silêncio. “Aqui neste país você não tem direito nenhum, Ahmed”. Silêncio. “Se você não cooperar eu vou te apresentar um mundo de dor que você não é capaz de imaginar”. Ahmed, que estava olhando para o chão, finalmente ergue a cabeça. Ele está sorrindo.

“Você fala uma dor maior do que a de perceber que você vai ser uma nota de rodapé na história da pessoa que você mais amou, americano? Você fala uma dor mais forte do que a daqueles 3 segundos em que, por alguma razão, sua mente esquece que tudo acabou e você pega o telefone pra ligar pra ela mas aí você se lembra que vocês não vão se falar nunca mais? Pior do que isso?”

Jack Bauer se aproxima e com um movimento brusco quebra um dos braços de Ahmed. Antes de desmaiar o suspeito ainda tem tempo de balbuciar a frase “ok, isso dói bastante também”.

#3

Vietnã. Por entre a mata selvagem uma tropa de vietcongues caminha lentamente. Observam suas redondezas, cada passo um risco calculado, cada som uma ameaça a ser estudada. Tensão diante de um distante som de galhos sendo pisados. Todos atiram. Do meio da fumaça das balas é ouvido o último suspiro de gibão. Enquanto alguns soldados esboçam um sorriso, uma saraivada de projéteis. De dentro do córrego se levanta John Rambo, derrubando um a um com tiros de metralhadora até sobrarem apenas dois soldados, escondidos atrás de uma árvore. “Levem-me ao general”, diz Rambo. “Ou eu vou matar todos vocês”.

O silêncio se prolonga na selva. É possível ouvir cada pássaro, cada inseto, o som de cada gota de orvalho escorrendo em cada folha. Até que a voz de um dos soldados rompe o silêncio.

“Olha, sinceramente, a essa altura, por mim tudo bem, sabe? Porque na boa, se eu não te levar, você vai me matar aqui, certo? Se eu te levar, alguém vai me matar lá. E assim, pra que? Qual o sentido também? Eu não me importo contigo, eu não me importo com o general, pra mim isso aqui era pra ser só trabalho, agora eu já matei pessoas, incendiei uma vila, atrasei em, puta merda, vinte anos, a minha terapia, que era sobre meus problemas com relacionamentos e agora é sobre crimes de guerra! Porra de crimes da porra de guerra. Porque assim, ok, mesmo se o Vietnã for livre, eu vou ser livre? Eu tenho um trabalho que eu não entendo, uma vida pessoal ao mesmo tempo vazia e confusa, passo tempo demais com meus pais e ainda assim não sinto que eu seja um bom filho, não sou capaz nem de adotar um bicho porque eu tenho ao mesmo tempo medo de não cuidar direito e me sentir preso a el — ” a voz é interrompida pela série de tiros do fuzileiro americano.

O outro soldado decide levar Rambo até o general.

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Written by Shoegayzer

Quando eu era mais novo um professor disse que eu escrevia bem. Até hoje estamos lidando com as consequências desse mal-entendido.

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