Mais tipos clássicos de postagem de qualidade que você encontra no feed do seu Facebook

Shoegayzer
4 min readMar 29, 2019

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A notícia dizendo que algum tipo de defeito é na verdade uma espécie de qualidade — Um clássico eterno do Facebook, a notícia do tipo “pessoas desorganizadas são mais inteligentes”, “pessoas que falam palavrão fazem mais sexo” ou “psicopatas jogam frescobol melhor”, quase sempre tem como fundamento alguma pesquisa questionável traduzida de maneira duvidosa em algum site de url aleatória tipo “alegriadeviver.vila.bol.est.cjb.net” e é postado com algum tipo de intenção que você nunca consegue distinguir se envolve auto reforço positivo, indireta mal direcionada ou pura ironia, mas na qual você jamais seria capaz de acreditar, a não ser que o defeito em questão seja algum que você compartilha. Porque homens que roncam feito betoneiras com certeza são melhores de cama e mulheres que derrubam coisas obviamente são mais atraentes.

Ok usarem meus dados pra prejudicar a política de meu país, mas essas camisetas me irritam sim

O conteúdo aleatório vindo da pessoa que você menos espera — A ideia do Facebook — e das redes sociais como um todo — é permitir que cada um de nós se comunique com uma rede de pessoas com quem temos alguma coisa em comum, seja isso um interesse, um trabalho, um hobby. Você adicionaria aquele amigo porque gostam dos mesmos filmes, aquele colega porque atuam na mesma área, aquela tia porque fazem parte da mesma família, na teoria de que os conteúdos dessas pessoas, por conta desses interesses comuns, seriam sempre interessante para você.

Porém um detalhe não foi levado em conta, o fato de que, mesmo tendo algum interesse em comum com outra pessoa, existe a forte possibilidade de que seus outros interesses não tenham absolutamente nenhuma conexão. O amigo que gosta dos mesmos filmes que você também é um ferrenho defensor do anarco-capitalismo, que você nem sabia que era uma coisa real de verdade; o colega que atua na mesma área que você também atua na área de falcoaria, outra coisa que você sinceramente achava que existia só em filmes; a sua tia está, de maneira totalmente saudável, redescobrindo os limites da própria sexualidade, ainda que de uma forma um tanto quanto pública e que em diversos momentos te deixa desconfortável.

E isso faz com que você, meio dia e trinta de uma terça-feira, se depare com uma timeline onde estão diretamente encadeados um apelo passional pelo fim do estado, um vídeo de um passarinho maior atacando um passarinho menor e logo depois um link de produto de sex shop que parece ter sido postado por engano.

Agora você se lembra de todas as pessoas que copiaram e colaram isso como “gente que participa de corrente”

O post afetuoso que parece ter sido feito sob a mira de uma arma — Outro dos problemas que as redes sociais parecem ter trazido para a nossa sociedade é a necessidade de que o ser humano não apenas esteja feliz mas de que ele demonstre essa felicidade nas mais variadas mídias. Férias não acontecem se não são fotografadas, filhos não são reais se não aparecem no feed, se no dia das mães não existe um texto apaixonado em ao menos uma rede social é porque obviamente você despreza a sua genitora e preferia ter sido criado por lobos até os 21 anos.

E essa quase obrigatoriedade da demonstração pública de carinho acaba gerando situações em que filhos, namoradas, primos e outras pessoas que não estão exatamente tão dispostas, preparadas ou inclinadas a demonstrar afeto se vêem pressionadas a produzir esse tipo de conteúdo temático, gerando coisas como a “longa declaração de amor feita pela pessoa que 12 horas atrás havia dito na mesa do bar que não aguenta mais esse namoro” ou a “foto com legenda emocionada que você consegue claramente ver que é a única foto que essas duas pessoas tem juntas e mesmo nelas dá pra ver as duas não se toleram”.

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Written by Shoegayzer

Quando eu era mais novo um professor disse que eu escrevia bem. Até hoje estamos lidando com as consequências desse mal-entendido.

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