Mini Conto #15: Multiverse of madness
Na chamada Terra #2 eles não se conheceram. Os pais dela tinham ido para outros país por causa de trabalho, ele quase nunca saía do interior, se cruzaram uma vez num aeroporto, ele teve a sensação de que aquela garota era familiar, de um jeito esquisito, mas não se preocupou muito.
Na Terra #4 eles se conheceram uma noite numa festa, ela era namorada de um amigo de outro amigo, ele era o cara contrariado bebendo drinks rosa com glitter. A festa não foi boa, duas meninas passaram mal, um amigo vomitou num chapéu, dois conhecidos foram colocados pra fora. Pessoas se perderam no estacionamento, no final os dois acabaram tendo que dividir um uber. Ele achou que ela era bonita, ela achou que ele era engraçado, ele pensou em pedir o instagram dela, ela pensou que, se ele pedisse, ela não poderia passar. Se despediram um pouco sem graça, ela deixou dinheiro a mais na parte dela da viagem, ele só notou depois, se sentiu culpado. Nunca mais se viram.
Nas terras #5, #7, #18 e #77 eles ficaram uma vez, numa festa, num bar, numa boate, numa biblioteca, mas não se viram de novo porque um deles tinha bebido demais ficaram sem bateria e esqueceram o nome do contato do outro, porque um deles voltou com um ex-namorado, porque um deles mudou de cidade, porque um deles estava envolvido num secreto projeto espacial visando repelir uma invasão alienígena e aquela era a última noite em terra antes da missão. Ela até pensou em explicar tudo isso mas desistiu quando notou que ele tinha medo de altura e talvez conflito espacial não fosse pra ele.
Na Terra # 19 eles tinham se apaixonado quando ela era consultora num projeto dele, na #27 ela era a chefe e os dois se encontravam escondidos numa salinha do quinto andar, na #133 eles davam aulas juntos e na #878 ela era dona de uma pequena livraria e ele era o herdeiro de um grande conglomerado de editoras e a relação que começava com desprezo e hostilidade acabava se tornando amor verdadeiro. A ciência nunca conseguiu explicar porque todos os relacionamentos nessa terra específica aconteciam de acordo com clichês de comédias românticas.
Nas terras #789, #29, #111, #112 e #9 eles terminaram com seis meses, oito meses, dois anos, três anos e meio, quatro anos e sete meses de namoro, por imaturidade dele, por que ela não estava mais apaixonada, porque eles não conseguiram ficar na mesma cidade, porque ela conheceu outro cara, porque os dois viram que funcionavam melhor apenas como amigos. Em outras doze terras eles ficaram juntos por mais de cinco anos, em oito pela vida toda, em cinco eles tiveram filhos, em todas elas o nome do garoto era Tom, em duas tinha uma menininha chamada Michelle. Em uma ele morria, mas ela colocava a mente dele num computador e juntos eles combatiam o crime. A Terra #54 era meio esquisita mesmo.
Na Terra #78 o primeiro beijo deles foi no planetário. Na #90 foi num barco, na #34 ela estava bêbada e eles se beijaram logo antes dela pegar no sono assistindo anime no cruhchyroll. Na Terra #889 ela uma vez jogou um copo nele durante uma briga, na #90 ele passou uma noite em claro encostado na porta do apartamento dela pedindo desculpas, na #66 os nazistas ganharam a segunda guerra mundial e quanto menos se falar dessa terra melhor.
Terra #345 eles tinham se visto só uma vez, mas nunca esquecido um do outro, #684 eles eram a dupla campeã de “karaokê com autotune” do planeta todo, #342 eles se conheceram duas vezes porque ele não reconheceu aquela garota com a câmera e ela não reconheceu aquele cara sem a fantasia de cachorro e a arma de paintball. Na Terra #777 ela era um cara, ele era uma garota, ela costumava dizer que ele era muito chorona, precisava controlar um pouco melhor os sentimentos.
Na Terra #1 ele estava sentado na cadeira pensando demais, torcendo pra ela ainda não odiar ele, torcendo pra tudo dar certo.