Pessoa não contundente
Um tipo de pessoa que eu sempre respeitei é a pessoa contundente. Sim, aquela pessoa que chega e dispara declarações como se fossem axiomas, verdades máximas do universo, regras inexoráveis acima de qualquer discussão. Ela não tem opiniões, ela exala verdades. Ela tem certeza absoluta do que diz e considera absurdo que alguma pessoa conceba, mesmo num universo hipotético, a possibilidade de que ela esteja errada
Eu sei, claro, que geralmente não gosto de ter esse tipo de gente por perto, mas admito que tenho um nível de admiração bem grande por pessoas assim, já que eu sou exatamente o contrário. Afinal, eu sou incapaz de ser contundente, seja na questão que for, já que tudo que eu digo é precedido ou concluído com um “eu acho”. Eu não sinto dor, eu “acho” que sinto dor e eu não fico com raiva, “eu acho que fico com raiva”, o que já tira qualquer possibilidade de impressionar o interlocutor com a minha convicção. Afinal, tenta me imaginar assaltando um banco (“eu acho que você deveria colocar todo o dinheiro nessa sacola e me passar…eu acho…”) ou pedindo alguém em casamento (“ eu acho que te amo…e você deveria se casar comigo…ou não…”).
Além disso existe a minha natural confusão e insegurança em relação as coisas. Como ser contundente quando não se tem convicção de nada? Até pra responder de que cor é uma parede eu tenho dificuldades e me sinto pressionado (“ok, isso é verde…quer dizer, parece verde, o espectro luminoso pode ser confuso, e com essa sombra…e se eu for daltônico? eu tenho um tio daltônico, eu posso ser também…e se for laranja? ou musgo? existe cor musgo? e é verde claro? escuro? hummm…”), resultando em respostas confusas, hesitantes e um tanto quanto dúbias.
Mas claro, isso nunca me incomodou - eu acho -, até algumas experiências passadas quando, em momentos de tensão eu não consegui ser, sei lá, contudente como eu gostaria.
Foi nesse tipo de situação que eu notei que talvez eu precise ser um pouco mais convicto. Não falo a ponto de conseguir discordar ou pedir pra pessoa parar, mas pelo menos no nível de conseguir pedir pra que minha família seja mantida fora do assunto, afinal vovó não tem culpa de nada, tadinha, ela até faz bolinhos de chuva pras visitas.
Então passei a tratar como um dos meus objetivos secundários para esse ano aumentar o meu “nível de contundência”, conseguindo dizer as coisas com convicção, certeza e confiança, sem deixar que as pessoas me pressionem ou eu pareça não acreditar no que eu mesmo estou dizendo. Faço exercícios em frente ao espelho - “não quero me converter à sua religião”, “não acho legal você xingar meus pais”, “por favor, me solta” -, ensaio com parentes em casa e tenho certeza que em breve vou conseguir me tornar uma pessoa mais convicta e contundente. Eu acho.