Romantismo desperdiçado
Sempre tive problemas com relacionamentos pessoais de cunho romântico. Sempre. Por uma razão ou outra, por um motivo aqui ou outro ali, por mais que eu me esforçasse as coisas não fluíam. Quer dizer, fluíam por algum tempo, mas depois eu notava que elas não estavam fluindo, eu é que estava tentando manter artificialmente as coisas fluindo apenas pela necessidade de acreditar que elas conseguiriam fluir. E talvez, claro, por alguma necessidade patológica de usar o verbo “fluir” várias vezes, mas vamos falar disso outro dia.
O que conta é que nada “dá certo” e eu sempre pensei em várias razões pra isso. A minha insegurança natural (eu sou tão inseguro que peço licença pra mim mesmo ao entrar no meu quarto vazio), dificuldades de comunicação (“eu disse que era pra passar o pão, não pra matar meu irmão, querida”), diferenças comportamentais/mentais excessivas entre eu e a parceira (“Belinha, você é uma zebra e eu sou humano…nunca daria certo…meus pais tem problemas com listras…”), ou até mesmo o fato de que nada nunca dá certo e eu sou uma pessoa iludida em termos de romance por vários anos de filmes da Meg Ryan na TV.
Até que pensando bem sobre várias coisas, desde relacionamentos prévios até relacionamentos de amigos, colegas, familiares (e vizinhos que discutem alto o bastante pra que eu conheça a vida pessoal deles), eu entendi que o que sempre me faltou (e possivelmente ainda vai me faltar por muito tempo) é compreensão. É alguém que te entende, ou, como diria aquele candidato de Belo Horizonte, “é gente entendendo gente”.
E entender, no sentido que eu falo, é algo complicado. É possível achar alguém que tolere suas diferenças sem entender (“ok, ele tem essa idéia ridícula de que no mundo real alguém pode se tornar Lanterna Verde, mas eu posso suportar isso porque gosto muito dele”), é fácil achar alguém que ignore (“é, ele realmente fala essas coisas estranhas, mas eu posso pensar em outra coisa e fingir que estou ouvindo”) e é fácil até mesmo achar alguém que te conheça (“eu sei como ele está se sentindo e sei como ele vai ficar se eu deixar ele constrangido”), mas é praticamente impossível achar alguém que te “entenda”.
Entender num sentido completo. Desde conhecer seu background cultural, acompanhar suas referências, entender porque aquela piada é engraçada, porque aquele filme é bom (e mesmo que discorde, saber o porque de você gostar tanto daquela droga). Que entenda as suas razões, seus motivos, suas causas, seus comportamentos, que consiga pensar junto contigo. Que não vá rir quando você contar uma coisa importante pra você, ainda que babaca e nem vá te censurar por causa de uma piada contada num velório com caixão aberto. Alguém que, quando te apoiar, não seja porque apóia qualquer coisa vindo da pessoa de quem gosta ou porque apoiaria até uma tentativa de libertar o Tibet usando um bidê e meio pacote de manteiga, mas porque acredita realmente naquilo que você quer.
E alguém que você entenda, cujos dados você consiga processar. Alguém em quem você note os padrões, alguém que você possa “ler”, uma pessoa cujo comportamento possa fazer sentido pra você, talvez não sempre, mas na maior parte das vezes. Ou pelo menos de vez e quando. Alguém que tenha uma lógica, que você possa apoiar, dar suporte, porque entende o motivo disso.
Entendi que tudo pra mim se resume a isso, em termos de vida pessoal num nível romântico. Compreensão. Estar em algum lugar, olhar nos olhos de alguém e saber que a pessoa está pensando a mesma coisa que eu, mas ela não é meu reflexo no espelho e nem mimha terapeuta. E saber que tudo não se resume a viver como o Cérebro do desenho animado, que sempre perguntava pro Pinky se os dois estavam pensando a mesma coisa e o mais próximo que conseguia de compreensão era um “sim, mas como vamos fazer Audrey Hepburn montar nua num camelo bebendo coalhada?”.