Sobre Oasis e coisas que a gente sente e não esperava sentir
Sentimento é sempre um negócio meio complicado. Primeiro porque, na maior parte das vezes, você não tem exatamente muito controle sobre o que está sentindo. Você sente que tem motivos pra estar feliz mas mesmo assim fica triste, você tá balbuciando pra si mesmo “calma, calma” enquanto vai ficando progressivamente mais puto, o teste da Revista Capricho deu que era hora de focar nos estudos mas não apenas você é um homem de quase 30 anos que não estuda mais como é aí que você fica loucamente apaixonado por uma pessoa que em termos práticos ignora que você também existe e lá vamos nós, agora você está pesquisando a diferença entre anel de casamento e aliança de noivado.
Depois porque os sentimentos escapam, em grande parte, da nossa capacidade de análise, ao menos dentro de uma lógica mais ou menos cartesiana. Você sente coisas que não consegue explicar, porque muitas vezes não consegue nem mesmo entender, e aí não sabe exatamente o que fazer, porque você não entendeu e não consegue explicar pra alguém o que não entendeu. Sua terapeuta diz que todos os seus sentimentos são válidos, mas você olha pra alguns deles e tudo que você consegue pensar é “não, não, não, isso daí não pode ser válido não, me desculpa, eu sei que a senhora tem um diploma, mas sem condições essa porra”.
Então muitas vezes você se pega sentindo coisas que, se você colocar no papel, não fazem tanto sentido assim. Preocupação com situações que não aconteceram e muito provavelmente não vão acontecer, irritação com lances que só existem na sua cabeça, simpatia intensa com gente que você mal conhece e etc. E neste mês vários de nós foram acometidos por um caso bem específico que é a volta de uma dupla de irmãos que nenhum de nós conheceu ou interagiu pessoalmente na vida.
Isso porque com o retorno dos irmãos Gallagher, bateu em bastante gente – e me incluo abertamente nessa galera – o sentimento de estar vendo o retorno de pessoas importantes, alguém que fez parte da sua vida em algum grau. Talvez não um irmão, um grande amigo, mas ao menos um tio ou primo querido de quem você tem boas lembranças e que você gostava de saber que estava vivo, tranquilo, ver uma foto dele curtindo a vida de vez em quando.
E ainda que algumas pessoas chatas provavelmente estejam usando esse momento pra discutir a qualidade da banda Oasis ou imperialismo cultural europeu, a verdade é que existe algo até importante nesse sentir. Na ideia de conseguir se conectar de verdade com algo, na ideia de conseguir ser tocado pelo trabalho de alguém, na ideia de uma pessoa ser parte de uma coisa tão importante pra você que o retorno dela se torna quase pessoal, e não apenas “cultural”, vamos dizer assim.
Num mundo tão cínico e onde tanta gente se esforça tanto pra desnaturar e racionalizar tudo até o limite do absurdo, sentir alguma coisa, por mais complicado que seja de explicar ou por mais bobo que possa parecer, acaba se tornando sim um desses pequenos exercícios de humanidade.
Porque sentimento é sim, quase sempre, um negócio complicado. Mas também é um negócio bonito e uma das coisas mais importantes que a gente pode ter.