Sobre Star Trek, Ellen Page e o seu tipo de garota

Shoegayzer
4 min readMay 1, 2020

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Como dá pra notar facilmente por aqui - e já foi mencionado em todas minhas redes sociais - eu não sou exatamente um poço de contundência, convicções e certezas. Claro, existem aquelas poucas diretrizes que me guiam no universo e me impedem de estar totalmente à deriva no caos da cultura ocidental moderna tal qual um barquinho de papel construído por uma criança sem coordenação motora, mas são poucas e não dariam uma página - nesse momento, por exemplo, eu só consigo pensar em sexualidade, futebol e que não gosto de uvas passas -. E um desses tópicos sobre o qual eu tenho poucas certezas é o de qual seria exatamente o “meu tipo” de garota.

E sério cara, isso é nebuloso. Ainda que pra algumas pessoas existam critérios claros e objetivos como o cara que prefere loiras, a minha amiga que gosta de japoneses ou a colega de trabalho que disse que não namora ninguém com menos de 1,75 porque quer poder usar salto - o que pra mim é tão absurdo quanto eu dizer que não vou ficar com uma menina porque ela não combina com a minha camisa do lanterna verde -, eu sinceramente nunca consegui precisar de forma tão clara assim o meu “tipo” de garota, em termos físicos. Primeiro porque ainda que eu tenha alguns conceitos mentais básicos (“Ellen Page, Ellen Page. Cééérebros!”) eu sou bastante flexível com isso. Depois porque vendo meu histórico pessoal não dá pra tirar nenhuma conclusão sólida quanto a esse tópico - na verdade até faz tudo soar mais shuffle ainda. além de fazer parecer que eu tenho tido bem mais sorte do que mereço -. E terceiro porque eu acho que não dá pra separar as questões emocionais e de personalidade das questões físicas, ao menos se você quer algo mais do que uma noite de sexo depravado com chantilly e cerejas (não que eu vá dizer que alguém precisa de mais do que isso, claro).

E talvez seja um pouco daí que vem essa minha flexibilidade com as “especificações físicas” de uma garota: do meu nível de “exigência” em termos de personalidade. Pra que eu me envolva com uma garota existe, ainda que eu tente negar ou evitar, um imenso checklist de características que vão desde um senso de humor idiota - como eu poderia ficar com uma garota absolutamente séria, por exemplo? -, até um certo nível de seriedade inerente - porque se eu ficasse com alguém tão bobo quanto eu seríamos os dois caçados por camponeses com tochas e ancinhos -, um background cultural necessariamente próximo - não dá pra manter uma relação com alguém que não entende uma imitação do poderoso chefão - e outras coisas em comum. Sem falar de todas as coisas em que eu espero que a pessoa seja o oposto de mim, como a capacidade de interação com o mundo real - “Luan, o homem-aranha não existe. sério, ele não existe mesmo. e agora para de chorar, as pessoas estão olhando” -, um certo nível de sensibilidade em relação aos outros e um certo grau de animação e vontade de quebrar regras que possa se contrapor à minha mentalidade década de 50 e minha incapacidade de pisar na grama mesmo quando o guarda não está lá. E claro, existem 500 outros itens, que vão desde gostar de ver trailers no cinema até entender Star Trek, passando por não ser fonoaudióloga - ou estudante de fonoaudiologia - e não gostar de incenso.

Por isso que, talvez, quando eu acho uma garota que é exatamente assim - ou relativamente próxima disso - eu realmente fico em primeiro lugar surpreso que ela seja também atraente (lucky me, lucky me) e sinceramente, sendo ela atraente eu acho que seria no mínimo uma viagem da minha parte pensar que eu, não sei, prefiro loiras ou que tenho uma queda por garotas gordinhas/magrinhas/nem-gordinhas-nem-magrinhas. Não que seja uma questão de valorizar a beleza interior ou coisa do tipo (?!) e sim de tentar conciliar alguém que te atrai intelectualmente e fisicamente - se possível de forma selvagem e incontrolável e vamos agora pra dentro do provador dessa loja…grrrrrrrr -. Mas acho que conforme a gente vai amadurecendo - não que eu esteja efetivamente fazendo isso, mas pode acontecer um dia - aprende que sim, é mais fácil conviver com olhos que não são da sua cor favorita do que com alguém que não entende o que você quer dizer quando pára na frente do elevador e diz “Scott, dois pra subir”.

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Written by Shoegayzer

Quando eu era mais novo um professor disse que eu escrevia bem. Até hoje estamos lidando com as consequências desse mal-entendido.

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